A dor do Medo

A dor do Medo

Temos um feriado no meio da semana, no meio da correria, do furacão. Um pausa. Como é difícil tomar ou retomar a paz, o controle de nós mesmos.

Muitas vezes escolhemos ter o controle do nosso mundo externo, nosso trabalho, nosso dinheiro, os outros.

E quando tentamos controlar as pessoas que nos cercam, as pessoas que amamos dizendo que estamos cuidando delas?

Controlamos seus atos, suas rotinas, oscilações.

Interferimos em suas escolhas, justificando nossa experiência maior.

Escolhemos sugerir caminhos, como se houvesse de fato um caminho a seguir – apenas ilusão.

Tentamos fazê-los ver o que enxergamos, como se os seus olhos vissem o mesmo mundo que nós vemos – apenas ilusão.

Tentamos falar de atalhos, precauções e cuidados para que evitem a “Dor” das desilusões com a vida e com as pessoas.

Mas o que seria de uma pessoa sem a dor do processo de assumir a própria existência? Sem a certeza de estar fazendo o melhor, que pode e vai falhar e que só na experiência saberá que amanhã será melhor?

Que dor é essa que queremos evitar no outro, amigos, filhos, parceiros (as), que amamos?

Esta dor é deles ou nos pertence? Mas que dor é essa, então?

Será  a dor do MEDO?

Medo da dor que sentimos ao vermos a dor de quem amamos.

Uma dor de descompasso. Dor de impotência, dor de empatia, dor de amor e cuidado.

Uma dor de mãe ao proteger o seu bebê. Uma dor injusta e bela!

Dor avassaladora e humana! Dor de permitirmos ao outro a sua dor.

E desta forma voltamos para nós mesmos – de volta ao nosso mundo interno.

Como é difícil tomar ou retomar o controle de nós mesmos.

Serenar nossos mente nossos sentimentos, nosso medo da dor. Medo de se perder na dor – medo da perda do Controle! 

Transformar o controle externo em interno. 

Transformar controle em cuidado. Devolver o cuidado para o ponto do amor. Transformando o desejo de cuidar do outro em autocuidado. Sermos nosso próprio bebê e nossa própria mãe.

O melhor caminho é o caminhar construído por cada um no seu mundo interno. Sem certos e errados, sem verdades únicas, sem controle da imprevisibilidade!

A arte de estar com pessoas que amamos – filhos, pais, parceiros, amigos, etc.  Estar sem controlar. Estar verdadeiramente junto, na sintonia entre o que o outro pede e o que posso dar.

A arte de não abandonarmos nem a nós nem ao outro.

Só depois que lutarmos contra nosso inimigo interno, o Personagem Medo, adquirindo um controle gentil sobre ele, e que estaremos aptos a sermos Mestres nessa vivência humana.

A dor do Medo não tem legitimidade.

O medo das pessoas controladoras,  em sua legítima intenção de amar, cuidar, evitar o sofrimento de quem ama, não será compreendido. Causará uma segunda dor ainda maior, a dor da violência psicológica.

Quem ama cuida. E precisa cuidar pra esse cuidado não virar controle. Pois quem controla pratica opressão, violência psicológica e muitas vezes violência física.

Telma Lenzi | Junho de 2007

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