Sexta feira, 18hs. campus da UFSC.
Estou esperando os meus dois filhos saírem do SCAM – Simulação de Combate com Armas Medievais. Fico observando essa paixão dos meus filhos.
Às vezes penso que eles são de outra época mesmo. Cavaleiros Medievais. Vendo eles colocando as suas armaduras. São os personagens da história deles.
Isso me remete ao passado, a paixão que tinham na infância, pelos bonequinhos de armaduras – cavaleiros do Zodíaco. Parece a mesma busca.
Olho em torno e vejo estudantes indo em direção ao ponto de ônibus com suas pastas com nomes dos cursos: História, Odontologia,Psicologia.
Isso também me remete ao passado, ao meu passado. Lembrando de mim como estudante naquele mesmo cenário a 25 anos atrás.
Como se deram minhas aprendizagens?
Mais à noite conversando com uma amiga que retornou pra faculdade depois dos 40, ela comentava da falta de maturidade dos colegas jovens, da não participação em aula. Saem no intervalo e não retornam pra aula, ela dizia.
Como foi a minha faculdade?
Na mesa do bar da Reitoria no intervalo das 10 hs. Ali a minha maior escola. A aprendizagem de se relacionar com pessoas.
Refletindo sobre essas coisas não pude deixar de sentir um sentimento de urgência.
Bruno! Preciso te dizer algo de mim.
Meu filho, quando eu estava fazendo 25 anos de formada, no mesmo mês tu entraste na mesma faculdade minha, no mesmo curso.
Não foi fácil pra mim.
Um filho que escolhe a mesma profissão da mãe.
Mas porquê?
O sentimento parece medo.
Mas medo de que?
Medo do processo!
Como se tornar uma Psicóloga, um Psicólogo?
O que aconteceu com nosso mundo que desaprendeu o cuidado de cada um com a sua saúde mental?
Somos um ajuste do Sistema?
Na Índia não tem Psicólogo. Estamos a serviço de quem e pra quem?
Ser um Psicólogo
Que busca.
Como conhecerás tua emocionalidade para lidar com os sofrimentos humanos? Porque os limites da nossa prática são definidos pelos limites da nossa emocionalidade.
Que ausência de poder.
A arte de influenciar pessoas a viverem com mais bem estar, mas quem define o que é bem estar é o outro.
Que possibilidade.
A aventura do autoconhecimento, a missão de vida de um terapeuta!
Que desafio.
O caminho da humildade e da ética.
Mas sabes onde aprender a caminhar caminhos com sentido se a verdade não se estabelece mais como absoluta?
Como aprender então a estar pessoas e não tratar pessoas?
Aprendendo a conviver com pessoas.
Estando disponível para a arte dos relacionamentos humanos.
Um lugar de possibilidades.
Onde não há certos nem errados.
A verdade é de cada um.
A aceitação do outro precisa ser legitimada.
E na relação com o outro há uma encontro humano como um espelho auto refletido.
É na vida, então este lugar.
No projeto de cada um, de como vai querer estar no mundo, que se estabelece essa aprendizagem.
Nas relações familiares, amorosas e de parcerias.
Nas experiências positivas e negativas.
Na externalização das emoções ou na frustração implodida de não poder expressá-las. E na escolha entre essas duas possibilidades.
Nos papos profundos na mesa da vida.
No treinamento do Scan.
Então preciso te perguntar, meu filho: qual o teu projeto de “Ser uma Pessoa”?
Porque só depois de termos adquirido as habilidades de “Sermos Pessoas” é que estaremos aptos a estabelecer um verdadeiro encontro humano, no projeto de sermos Psicólogos.
Telma | 7/04/2007