Minha virada de ano aconteceu de uma maneira inesperada.
Não foi na data de sempre 31/12.
Veio aos poucos na música de um riacho, no cheiro forte do mato, que se misturava com o cheiro do barro molhado impregnado no carro. E ela estava ali, bem perto e de fácil acesso. Apesar de termos ido tão longe. Imponente e poderosa.
Dava medo e desejo aquela aproximação. Mas de perto e aos poucos fomos conhecendo seus espaços acolhedores que nos permitiu banhar a alma.
Emoções antigas, lembranças, restos, saiam de nós na cor marrom, cachoeira abaixo.
E assim ficamos até a água se tornar límpida de novo, trazendo o novo, a paz e a quietude. A vivência tantas vezes falada e imaginada, agora real.
Ruben Alves fala dos seus sacramentos: “Acho a vida maravilhosa, gosto de brincar, de amar, de música, de poesia, de escrever, de banho de cachoeira, de banho de chuveiro, de café com leite pão e manteiga, de balançar… Esses são meus alegres sacramentos.”
Drummond fala em sua poesia “Desejo”, que um deles é tomar banho de cachoeira. Também é um dos meus desejos/sacramentos preferidos. Mais especial ainda quando se oferece como um ritual de limpeza e passagem, como na metáfora destas águas. Água de cachoeira que corre entre as pedras, percorre e abre espaços, nem sempre fáceis. Água que faz seu caminho e segue em frente se dispondo para a natureza.
Quais são seus rituais?
Telma Lenzi | dezembro 2006