Hoje tive um encontro muito importante.
Com ela.
Essa menina de 6 anos, minha Personagem Criança Interior me fez umas perguntas interessantes.
Ela me pergunta, o que eu fiz com as coisas que ela mais gostava de fazer.
Se eu, como adulta sigo fazendo o que me fazia muito feliz.
Fui questionada sobre muitas coisas e aqui compartilho algumas delas.
– Tu ainda sobe naquela árvore do jambo e fica imaginando histórias?
– Sim muito.
Mas na imaginação.
Imagino eu lá em cima da árvore, vendo nuvens. Aí eu escrevo as histórias e publico para inspirar pessoas.
– E escutar as conversas dos adultos, principalmente as proibidas da ditadura?
-Adoro.
Converso e escuto muito as idéias das pessoas (autores) em seus livros.
Gosto tanto de escutar histórias, conversar que virei Terapeuta. Escuto historias o dia todo.
E sobre as histórias do pai que protegia perseguidos políticos, isso me marcou muito.
Sou bem ligada nas injustiça do mundo, a gente chama isso de Ativismo Social e temos uma ONG.
– E brincar de casinha, arrumar os móveis, que era a melhor parte.
E as minhas bonecas?
– Simmmm. Amo decoração, que é arrumar os móveis.
E brinquei muito com meus 2 bebês. Hoje continuo acompanhando eles na vida adulta deles.
Ah! E o Momo está aqui comigo.
– Mesmo o meu MOMO?
Eu queria dizer “é meu” e saia MOMO. Daí ficou o nome dele, hehe.
– Sim. Este mesmo. O primeiro bonequinho.
-E brincar com os carrinhos do meu irmão, que eu adorava?
-Sim. Adoro meu carrinho de verdade e gosto muito de uma estrada pra dirigir.
Já fiz Raly e tudo. Que é brincar de jogar corrida de carrinho, na lama.
– Ohhh. Que legal que tu ainda brincas dessas coisas.
-E as brigas com o pai para fazer asa coisas que só os meninos podiam lá em casa?
-Hehe. Foi bom isso, né.
Tu conseguiu ir no jogo de futebol que era só para os homens.
E isso fez eu nunca recuar quando a regra do mundo proibia algo por eu ser mulher.
E sermos em 5 mulheres em casa sempre me aproximou muito do mundo das mulheres. Hoje no meu trabalho somos muitas, a maioria mulheres. Amo.
– E ainda como chocolate e bala escondido do mãe e do pai?
– Bom. Era bem divertido encontrar os esconderijos que mudavam de lugar, né?
Ainda adoro uma besteirinhas, chocolate então… Mas hoje tenho que esconder de mim mesma. Hehe.
– E teu quintal tem gabiroba, jambo rosa e amarelo, araçá, goiaba, pera, ameixa, banana e pitanga, né?
Porque o quintal é o melhor lugar da casa e eu adoro ficar lá.
– Ohhh. Não. Isso ainda estou me devendo. Mas prometo pensar nesse projeto fortemente.
– E o meu problema de não gostar da escola, não prestar atenção no que não me interessava, me prejudicou muito?
-Não.
O problema não era tu, mas o tipo de escola.
Hoje atendo muitas crianças criativas que não gostam da escola tradicional, também. Pouca coisa mudou, mas tá melhorando.
-Ufa. Fico mais aliviada de saber. Ganhei tanta bronca das professoras.
– Tem coisas que me deixam muito triste. Queria saber se vai passar.
– Pode perguntar.
-Eu consegui parar de fazer Xixi na cama?
Eu fico triste com isso.
– Sim.
Tudo tem seu tempo e as coisas foram sempre se organizando pra melhor.
– Obrigada por me contar. A menina fala com um tom de alívio.
– Queria fazer uma última pergunta. E a pior pergunta…
E o pai? Tenho medo que ele morra. Isso me deixa muito agoniada.
– Sim.
Foi bem difícil todos esses anos de infância com esse medo e ele tão doente.
Mas ele viveu até eu ter 26 anos. Me ajudou, apoiou muito no inicio da vida adulta. Um super pai pra todos nós.
Ela suspira e seus olhinhos se enchem de lágrimas.
– Tchau, vou brincar.
E ela sai correndo. Mas de repente volta as pressas.
– Ei, pera, pera. Tem mais uma aflição em mim. Posso só mais uma última pergunta, só uma?
-Pode.Claro. Todas que quiser.
-E vou ganhar uma irmã ou irmão daqui a uns dias.
E todos falam que eu vou pro canto. Que não vão mais gostar de mim.
Que vai ser de mim?
– Isso foi muito cruel contigo. Não era verdade. Foi bullying.
– Bullin?
– Sim, Bullying. Brincadeiras maldosas que machucam muito.
Olha. Deixa eu te contar algo muito bom: Tem amor pra todos.
E vai ser uma menina.
E pode acreditar, ela vai crescer logo, logo e vai ser a tua melhor amiga na vida.
Ela sorriu, me deu um abraço demorado e voltou aliviada pra brincar.
E como seria com você?
O que a sua Criança Interior lhe perguntaria?
Tire um tempo pra você e faça as suas perguntas.
Suas alegrias da infância estão presentes na sua vida adulta?
Telma Lenzi
07/10/2020