Personagens Internos: nosso mundo interno como um recurso de resiliência

Olhar para dentro e se conhecer melhor. Este é o convite, nestes tempo de Pandemia, onde estamos com a lente […]

Olhar para dentro e se conhecer melhor. Este é o convite, nestes tempo de Pandemia, onde estamos com a lente interna do MEDO aumentando tudo. Daquilo que é bom e do que somos vulneráveis. Pensar nosso mundo interno como um recurso de resiliência e auto agenciamento nos fortalece emocionalmente.                                   Os PERSONAGENS INTERNOS são um recurso valioso de resultados importantes nessa busca de bem estar.

 

Quem são eles?

Todos temos um auditório interno de vozes, uma equipe, um time de conselheiros, colaboradores internos, com os quais estamos sempre dialogando. Eu os nomeio Personagens Internos.

Com eles, os Personagens, construímos nossas interpretações, deduções interiores, motivações, apreciações e ponderamos sobre as decisões que tomamos na vida. O que decidimos fazer, e principalmente de que forma fazemos.

Sempre conversei desde menina com os meus e esse diálogo interno foi fundamental no meu autoconhecimento e desenvolvimento.  Depois de formada, instrumentalizei o trabalho com os Personagens, como um recurso terapêutico para os meus clientes.

 

Você conhece os seus?

Somos todos singulares. A natureza do nosso mundo interno é igualmente única.

Cada um tem os seus Personagens, suas vozes com suas características que foram construídas ao longo da sua história de vida. E cada Personagem traz uma voz diferente e simultânea, o que torna necessário o diálogo interno democrático e igualitário  para suas coexistências.

Às vezes eles são contraditórios, antagônicos outras vezes estão em parcerias.

Refletem os mesmos recursos que utilizamos no nosso mundo exterior, os compromissos éticos e retóricos envolvidos nas interações com as pessoas no mundo externo.

Às vezes fazem muito barulho interno, outras vezes parece uma melodia de vozes.

 

Como funciona a nossa mente

Esta é a grande novidade da noção sociocultural da “mente”: Nosso Self,  nosso mundo interno,  não tem um centro único.

Ele é múltiplo.

Não tem um núcleo profundo a ser alcançado como sinal de maturidade.

O Self é descentralizado, é uma conversa horizontal entre suas várias vozes, seus vários Personagens.

É produzido dentro destas sequências conversacionais de ação.

Nunca estará pronto, sempre será um processos de possibilidades,  transformação e evolução. Um eterno tornar-se.

 

Onde eles se manifestam

Eles não existem dentro da nossa “mente”. Nós os invocamos linguisticamente através da reflexão, no diálogo, em nossas conversações. Coexistem em nosso mundo interior e aparecem nas nossas interações, relacionamentos, nas práticas conversacionais, na hora das conversações tanto públicas como privadas.

Se manifesta:

Às vezes em nossas pausas, nossa respiração ou distrações.

Na entonação responsiva de nossas palavras.

Na expressão que surge através de certo jeito característico.

Na expressão facial, verbal, nos gestos.

No tom de voz formal, indignado, respeitoso, autoritário, alegre, culpado, com medo.

Nos dirigimos às pessoas com o nosso mundo interno. Mostramos claramente com qual Personagens estamos respondendo às circunstâncias que estamos vivendo.

Temos muitos deles à nossa disposição. Somos muitos em um encontro com o outro.

 

Como podemos conversar com eles para conhecê-los melhor

  • Convidando para uma conversa a partir da nossa imaginação para construir um espaço dialógico.
  • Reunindo e relacionando todos os aspectos de suas circunstâncias atuais.
  • Conhecendo como acontece o curso, o itinerário das respostas e negociações internas entre eles, os Personagens.
  • Saber com quais Personagens contar, quais estão disponíveis em cada experiência da vida aumenta nossa flexibilidade,  resolutividade de problemas e resiliência.

 

Responsividade Reflexiva

É a nossa capacidade de responder de maneira útil e geradora de novos significados para seguirmos adiante em trocas produtivas.

Os Personagens são nossas vozes internas construídas, internalizadas e programadas durante a nossa vida, pelas experiências relacionais vividas.

Criamos padrões, programações, formas de vida, formas de ser, roteiros de ser, itinerários internos, programações relacionais.

Eles são acionados a se manifestar em situações bem específicas, que tenham semelhanças entre si. Responderão de forma padronizada historicamente, isto é, a partir de situações que aconteceram ao longo da nossa história,  para um certo tipo de interação.

Suas manifestações, nosso jeito de agir com determinadas interações um dia foi útil e tem coerência em nossa historicidade.

Precisamos refletir se suas respostas ainda são úteis. Se a forma como agimos ou reagimos com tal Personagem, está gerando o resultado que esperávamos no presente, se está servindo, gerando bem estar, está tudo certo.

Às vezes não está tudo bem. Alguns dos nossos Personagens programados e definidos para algumas interações estão gerando problema.

De uma hora para outra não estão mais funcionando, deixaram de ser úteis. Ou porque mudamos ou porque o outro cresceu, mudou, ou o contexto externo mudou e pede atualizações.

Vamos precisar nos revisitar sempre. Estamos sempre em transformação.

Não somos mais o mesmos de antes de ler esta crônica, antes do verão, da Pandemia, antes de ter filhos, casar, divorciar e assim por diante.

Por inúmeras razões alguns Personagens Internos deixaram de ter boa responsividade, deixaram de ser respostas úteis para a solicitação da interação.

Desligar o piloto automático das programações e poder construir novos roteiros, novos caminhos para novas formas de responder a interação atual do presente, se faz necessária.

O caminho é perceber qual o PERSONAGEM programado que está gerando o mal estar e convidar outras responsividades, outros tipos de respostas.

Às vezes precisamos convidar vários Personagens para agirem juntos.

Por exemplo: Convidar a Coragem para estar junto do Medo neste momento de riscos de contaminação viral. Não seria útil agir só com um dos dois. O Medo sozinho, não permitiria a saída ao supermercado para comprar suprimentos. E a Coragem sozinha não tomaria os cuidados de precaução antes e depois da saída. Com a ação conjunta destes dois Personagens, estaremos mais protegidos. Nossa resposta para o contexto ficou mais útil.

Convidar outros Personagens para compartilhar as responsabilidades de ações  possíveis, amplia nosso repertório interno,  legitima-os fazendo surgir uma ação conjunta entre eles.

Sustentar idéias e crenças sobre nós mesmos, depende tanto da validação, suplementação de nossas comunidades a qual pertencemos como do mundo interior dos nossos Personagens.

O desenvolvimento de uma idéia no self é sempre um processo de colaboração e de coautoria de várias vozes internas e externas.

Podemos sempre buscar outros Personagens com melhores respostas para as situações vividas, que resultarão em maior bem estar para as interações que estamos envolvidos.

Aqui você tem uma escolha. Agir pelo impulso do Personagem que surge a partir da mobilização causada ou pelo tempo interno que nos damos ao refletir uma emoção que a fala do outro nos causa, nos responsabilizando por ela: o que escutamos do outro? O que significamos internamente ao ouvir do outro?

Aumentar nosso autoconhecimento e controle sobre nós mesmo nos devolve uma grata satisfação.

 

TELMA LENZI | 25 de Maio 2020

 

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PS: Em 2013 fundamentei esse recurso em um artigo científico publicado pela revista indexada Nova Perspectiva Sistêmica, número 47, intitulado Personagens Internos. Se você quiser aprofundar o assunto, este é o lugar.

 

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