23.473 mortes (25/5/2020)
Um número, uma marca, um horror.
Não são número, são vidas.
Tem nomes.
Era o amor de alguém.
Tem a filha, o filho, o pai, a mãe de alguém.
Mas onde está a comoção do luto? E se fosse 117 quedas de avião, teria espanto?
Todos perdemos algo. Todos perdemos tanto.
Nossas vidas, nossas rotinas, nosso mundo de antes.
Como permitir o meu luto se ao meu lado todos sofrem suas perdas.
Descaso, deboche, desprezo. Um país desamparado, um povo em desespero.
Como ficaremos?
Ah! As dores emocionais, as dores do luto, efeito colateral da Pandemia, vão durar muito.
Como podemos nos apoiar?
Como se despedir de quem se foi sem despedidas?
Por uns minutos vou guardar a minha dor.
Quero criar aqui um mínimo de contexto para honrar legados, honrar sofrimentos.
Aqueles que não estão mais lá podem ter nos deixado heranças, lembranças.
Aqueles que não estão mais lá podem ter deixado memórias para nos conectarmos a eles.
Os relacionamentos íntimos não morrem, são eternizados, internalizados no nosso self.
E no self podemos dizer olá novamente ao invés de adeus a quem perdemos.
E, desta forma, crio no íntimo do meu mundo interno novos diálogos contigo.
E, no privado dos meus diálogos, te convido para pertencer a minha comunidade interna de Personagens que me acompanham.
Buscarmos juntos pelas nossas histórias vividas. Nos reconectarmos para sempre no que me é possível.
Ah! Mas dói.
Dói muito.
A dor da perda, a dor do absurdo.
Por uns minutos vou ficar acolhendo a minha dor.
TELMA LENZI | 25 de maio 2020
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