Minha história começa em uma cena de Natal. Shopping Oslo em Córdoba – Argentina. Preços convidativos. Uma grande oportunidade: Mais presentes podem ser comprados!
Quero este, quero aquele também, quero comprar mais, quero me garantir, quero aproveitar. E uma sensação de agitação, prazer toma conta de mim. Ou será ansiedade? Não importa. Adoro dar presentes. Presentes para todos que gosto e que estiveram perto de mim nesse ano. É a minha forma de demonstrar amor por quem eu amo: dar presentes.
E o shopping borbulhava de pessoas. Muita gente, muitos brasileiros, com a mesma intenção.
Aproveitar a diferença de câmbio. Stress para aproveitar a oportunidade. Presentes… E o tempo passando. Do prazer para a agonia. Agonia do barulho e agonia das pessoas. Filas nas portas é sinal de mais vantagens, promoções relâmpagos. As pessoas se atropelam. E lá estou eu e minha agonia. Vontade de acabar depressa.
Procuro pela minha consciência individual e nada. Ficou perdida na multidão. Então, no meio da orgia natalina, um pouco mais a frente um velhinho simpático, gordo e tranqüilo contrastava com a cena que ia ficando para trás.
Um Papai Noel perguntava a uma menininha:
“O que você quer de Natal”?
Eu fui me aproximando (na verdade, minha menina interna me puxando). Fiquei olhando aquela cena, como se estivesse em estado de encantamento. Ah! Eu queria colo, consolo daquele bom velhinho. Meus pensamentos enlouqueceram.
O Papai Noel esticou a mão com balinhas para mim. Timidamente aceitei. E ele me perguntou:
O QUE VOCÊ QUER DE NATAL, MOCINHA?
Sorri constrangida com a pergunta, e emudeci. Atordoada, fiquei parada olhando pra ele. Dentro de mim, algo me tragava de volta pro meu mundo interior, me resgatando do coletivo. Arrastou-me como uma onda gigante me levando de embrulho até a areia da praia.
Aos poucos fui me restabelecendo do impacto, queria sair dali. Busquei um banco do lado de fora do Shopping. Procurei por um café. Mesinhas na calcada, um lugar tranquilo. Precisava me sentar. E ele perguntou de novo, agora nos meus pensamentos?
O QUE VOCÊ QUER DE NATAL, MOCINHA?
O que eu quero do Natal? Como assim? O que eu quero para 2008? O que eu gostaria mesmo de me dar? O que me falta de verdade? O que quero dar pra quem eu amo?
Não quero dar nada disso: correria, agitação, ansiedade, comercio, tensão de final de ano. Tudo não acaba 31/12. Tudo acaba e começa todo instante, todo dia.
Não quero mais isso na minha vida. Não gostaria de ver quem eu amo nessa armadilha, também. Tudo isso eu não quero. O que eu quero então?
O que eu quero dar pra quem eu amo, de tão especial que possa fazer uma diferença em sua vida? Minha forma de demonstrar amor é dar presentes. Carrego comigo lentidões, padrões a serem mudados. Preciso dar outro significado a isso. Quero dar presentes especiais.
Quero sonhar!
Para os que estão planejando uma viagem cinco estrelas.
Meu presente são passagens para o seu próprio mundo interior. Percorrer o caminho dos seus valores e mitos. Subir o morro mais alto de suas alegrias, enfrentar as cavernas dos seus medos, visitar os vales dos seus sonhos de paz. Resolver pendências, dar explicações sobre você, a você mesmo. Hospedar-se em sua alma.
Para os que sonham com a casa dos sonhos.
Meu presente é um lar, que se torne seu santuário. Mobiliado com suas lembranças. Impregnado por seu estilo. Onde você experimenta o bem- estar. Todas as cores. Ou tudo branco. Um quintal, um jardim, uma varanda para desfrutar do sol. Praticar a essência de morar.
Para os que querem uma jóia.
Ofereço de presente o ouro do mais puro quilate que são os relacionamentos, os amigos. Amigos para todas as horas. Amigos para dar risadas. Outros só para as horas difíceis. Amigos de uma vida toda. Amigos de uma estação. Amigos distantes e presentes. Todos importantes. Amigo é melhor que gente influente.
Para os que apreciam objetos de luxo sofisticados.
Quero lhe presentear com objetos especiais. Luxo é aquilo que é raro, escasso, exclusivo, ou seja, tudo o que não é comum nem usual. É emocional. Então vamos escolher. Temos por aqui vários deles:
O silêncio. Alto valor emocional e que é raro.
Estilo próprio. Apreciar as coisas fora do seu contexto.
Atitude chic. Abrir mão do Status.
Responsabilidade Social. Uma preciosidade.
A pausa para o café na esquina, o cheiro do pão, o sorriso do filho, o mar, a chuva, e o que mais for raro para cada um.
O VALOR DAS COISAS É MEDIDO NÃO PELO QUE ELAS VALEM, MAS PELO SIGNIFICADO QUE VALE PARA CADA UM.
Vem na minha mente uma frase que gosto muito: “Simplicidade é o máximo da sofisticação” de Leonardo da Vinci. O garçom interrompe a minha conversa interna trazendo a conta.
Vou seguindo meu caminho, e a pergunta aparece de novo:
O QUE VOCÊ QUER DE NATAL, MOCINHA?
Já tenho, agora, uma resposta e isso me faz bem.
Quero o meu luxo. Quero tornar-me a medida do meu luxo. O valor medido pelas emoções vividas. Quero tudo que me devolva para a minha verdade. Da aparência para a essência. Que me eleve do ter para o ser. Quero as experiências de alto valor emocional que me são raras Quero o presente de estar presente!
Telma Lenzi | Dezembro 2007
“Sonhar é o melhor de tudo e muito melhor do que nada”. (Luis Fernando Veríssimo)