Gosto muito do Rubem Alves.
Ele anda sempre por perto nas minhas reflexões. Prosear com ele é um prazer.
O conheci através da leitura de sua crônica Tênis x Frescobol. Sempre sugiro esta leitura para os casais que atendo.
Mas nestes dias de verão, jogando e vendo parceiros jogarem o tal jogo de frescobol na praia, fiquei refletindo sobre as jogadas que não dão certo, as tentativas.
Rubem Alves fala que no frescobol, assim como nas relações, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.
Se a bola vem torta, há um esforço para consertá-la. Não existe adversário.
O erro de um é lamentado pelos dois, e logo se reinicia o jogo. A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras.
Continuo minha observação na praia:
Tirando os parceiros altamente performáticos, todos erram, e erram muito.
E é aí que mora a beleza e leveza do jogo, do frescobol e dos relacionamentos.
O que são os erros se não a nossa própria natureza nossa própria humanidade?
Manter um relacionamento implica des-iludir-se (ver a verdade).
Os erros são as tentativas, dificuldades, ajustes, crises, pausas, cansaços.
E, então, a bola cai e o jogo pára.
Somos todos únicos, homens e mulheres. Somos todos pessoas singulares, com visão de mundos tão diferentes.
Sonhos, desejos, fantasias e sentimentos tão diferentes.
Vamos errar, magoar e sermos magoados pelo outro.
Somos diferentes um do outro e as diferenças geram uma certa tensão.
Como é pra você a presença da diferença?
Traz tensão, mas também faz crescer a relação?
Vamos errar muito, mas crescer muito com isto se nos permitimos buscar com respeito, ajustes, combinações, diálogo.
A questão não é errar, mas como lidamos com o erro.
A questão não é o lamento culposo ou crítico quando a bola cai e sim retomar o jogo.
Buscar manter a relação, o jogo, a bolinha no ar com as boas jogada pra buscar a continuidade.
Sim, e incluir no jogo, na relação, nossas limitações, vulnerabilidade e humanidade. Nossas imperfeições que com certeza irão muitas vezes paralisar o jogo.
E vamos novamente recomeçar.
Eu na praia vendo um casal jogando frescobol.
Os parceiros que eu observava durante um bom tempo tinham um belo truque: jogavam com uma segunda bolinha no bolso, que fazia o jogo retomar mais depressa.
17/02/2006
Telma Lenzi | 2006