SER SUA PRÓPRIA MÃE

“Em todo adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está […]

“Em todo adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre
vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita atenção
e educação incessantes.”
C. G. Jung

Na procura de algo que fizesse sentido, encontrei uma criança sentada em uma escada da vida. Rejeitada, abandonada no tempo, sem amor. Impedida de ser livre. Me pareceu familiar.
Custo a reconhecer. Mas aos poucos vou me lembrando de quem é.

Como a abandonei? Quando? Como me esqueci dela por tanto tempo? Quero dizer algo, fazer algo, mas permaneço imóvel. Não sei por onde. Não sei se ainda vale a pena. Não sei como isto aconteceu, só sei que ela foi abandonada por mim.

Agora sei o porquê de tanta insatisfação, de tanta busca. Vivi estes anos todos sem a minha criança interior. Agora que a encontrei, o que dizer?

Ela que costumava ser tão feliz, vejo-a assim, quase sem vida. Mas, sobreviveu! Viveu sem amor, sem meu cuidado todo esse tempo. Viveu sem mãe. E eu mal consegui sobreviver.

Queria ser uma adulta com maturidade e busquei a vida todo algo que completasse minhas inquietações, tirasse a minha angústia. Nada encontrei que preenchesse esse vazio em mim.
Encontrei apenas distrações, que confundiram a busca do meu bem estar no mundo.

Agora tudo faz sentido, tudo se encaixa. Uma adulta sem a criança interna, uma adulta pela metade.

Neste instante começo a sentir uma certa harmonia interna. Quantas vezes me perguntei o que me faria feliz, o que me faltava. Aproximo-me dela meio constrangida, envergonhada, e digo: Está tudo bem. Sei que você esta amedrontada e magoada. Mas agora sou adulta e tomarei conta de você.

Eu não sabia como fazer para te manter comigo, e cedi demais aos meus nãos, a minha repressão. Eu não conseguia aceitar e cuidar de todos os meus personagens internos. Principalmente aqueles que cometiam erros, ou faziam bobagens, que me mostravam que não era perfeita. E eu queria muito ser.

Agora entendi. Você não precisa mais sentir medo. Vou protegê-la, serei uma mãe amorosa e sempre presente ao seu lado.

Lamento não ter conversado com você todos esses anos e por sempre tê-la desprezado. Desejo compensar o tempo em que estivemos afastados. Resgatar contigo o que me fazia feliz na infância.

Lembrar que os momentos mais felizes eram aqueles em que eu era aceita e amada pelo que era. Os momentos de autenticidade em que sabia ser intima da minha criança. Como adulta, não conseguia mais ser íntima de ninguém porque não sabia ser íntima de mim.

Agora serei o melhor que puder, minha melhor mãe de mim.

Telma Lenzi | Maio 2012

OUÇA ESSA CRÔNICA GRAVADA

Gostou? Compartilhe :)

3 comentários em “SER SUA PRÓPRIA MÃE”

  1. Então aos 53 anos estou descobrindo pq faltava em mim. Como fez sentido essa msg, como sei agora q posso acolher meus medos e inseguranças e tão simples. Gratidao.

Comentários encerrados.

Rolar para cima