De acordo com a pesquisa, 54% dos entrevistados conhecem uma mulher que foi agredida pelo companheiro e 56% conhecem um homem que agrediu a parceira, mas 57% acreditam que, apesar de atualmente haver mais punição para os agressores e assassinos, a forma como a Justiça pune não reduz a violência contra a mulher. O medo se reflete na pesquisa quando 85% das pessoas disseram que mulheres que denunciam seus maridos correm mais risco de serem assassinadas.
Quando avaliado o nível social, a pesquisa indicou que 69% acreditam que violência contra a mulher não acontece só em famílias pobres. Entre os riscos e motivos para maior risco à vida da mulher foram apontados o fim do relacionamento (43%) e a denúncia sobre o agressor, seja namorado ou marido (85%). Para 92%, as agressões frequentes podem terminar em assassinato.
Para a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Eleonora Menicucci, a pesquisa mostra que a violência contra as mulheres ultrapassas todas as classes sociais, mas a dor das mulheres com poder aquisitivo mais alto não aparece enquanto as mulheres mais pobres têm seus rostos estampados nos jornais, porque essas denunciam os maus-tratos. “Isso porque elas [as mais pobres] vão às delegacias e as mulheres que mais denunciam são aquelas que dependem das políticas públicas e dos serviços públicos”.
Eleonora destacou que este ano houve punições exemplares para agressores e assassinos de mulheres em casos que se tornaram emblemáticos devido à sua larga divulgação pela imprensa. “Há leis que pegam e leis que não pegam. A Lei Maria da Penha pegou em dois aspectos. O primeiro é que dá cadeia, acabou com aquela baboseira de distribuir cesta básica. E o segundo é que, hoje, mexe na conta bancária do agressor, que tem ressarcir a União sobre todo valor que é pago aos dependentes da mulher em caso de morte”.
A ministra se mostrou indignada com o resultado da pesquisa e disse que o governo, por meio de sua secretaria, tem que assumir a responsabilidade por essa realidade para começar a fazer alguma coisa que possa gerar mudanças de fato. “Temos que ter tolerância zero e eu acredito que deve haver uma parceria entre todos os órgãos da sociedade. Inauguraremos 11 casas da Mulher e isso é questão de honra. Não podemos mais ter pesquisas com resultados nesse nível e temos que assumir compromisso de mudar isso”.
A diretora do Instituto Patrícia Galvão, Fátima Jordão, ressaltou que as medidas para mudar a realidade da mulher que se sente insegura dentro de casa porque mora com o agressor já estão sendo tomadas. A questão é aperfeiçoá-las ou aumentar a disponibilidade dos instrumentos para a população feminina, entretanto ela colocou que a imprensa deve colaborar para mudar o rosto e a personalidade dessa violência, mostrando que esse é um problema tão grave quanto outros da sociedade.
“Quando vemos notícias sobre agressão, vemos o agressor personalizado, o monstro que emparedou a mulher. Passa-se a ideia de que existem doentes na sociedade, mas temos que passar a compreensão de que a sociedade é atrasada com essa questão e não entendeu que esse problema atinge graus de perversidade enorme competindo à mídia lidar com isso como um problema de uma sociedade machista”.
O representante do Conselho Nacional de Defensores Públicos Gerais, David Eduardo Dpiné Filho, observou que, enquanto a percepção da violência contra a mulher foi ampliada, a confiança no serviço público não aumentou na mesma medida e há ainda um deficit na qualidade do serviço prestado para essa mulher vitimizada. “Ela acaba sendo revitimizada quando procura uma Delegacia da Mulher e a burocratização do sistema ainda impede que essa mulher tenha no serviço público uma referência que lhe dê segurança para denunciar e não encontrar o agressor em casa para novamente a agredir”, analisou.
Leia os resultados completos da pesquisa:
Edição: Fábio Massalli
Repórter da Agência Brasil
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