Estou me experimentando nesse novo tom de cabelo, sem pintura, com coragem e ousadia. Me divertindo.
Elogios de uns, espanto de outros e algumas críticas pesadas. Escutei que devia voltar a pintar, que estava com cara de velha, feia, sem vaidade, relaxada, deprimente.
Opa! Só mudou a cor. Eu não mudei. E se fosse ruivo ou rosa?
Algumas vezes me espanto, outras compreendo a insistência em tentarem me colocar de volta na caixa da tirania estética social.
Quando penso o lugar da mulher na nossa cultura nos dias de hoje, ainda vejo muito caminho a ser percorrido.
Uma mulher é desconsiderada em relação ao seu próprio corpo na nossa cultura patriarcal machista.
A aparência da mulher importa mais do que todos os outros aspectos que a definem enquanto indivíduo?
Por mais que as mulheres tenham alcançado vários direitos e independência financeira, uma característica da cultura patriarcal machista permanece: padrões estéticos tiranos, a chamada objetificação do corpo feminino. A definição cruel do que é bom e belo ou ruim e excludente no julgamento inicial da aparência, depreciando mulheres que não atendem a esses padrões.
E no cotidiano das nossas vidas, em ambientes íntimos, familiares, profissionais somos hostilizadas pelo nosso peso, altura, cor, depilação, formato do corpo, etc.
No meu caso, dentro destes conceitos, a cor do cabelo grisalho representa descuido. Para os homens é charme.
Muitas mulheres em sofrimento emocional/social tendem a se depreciar por não caber nos padrões e seguem depreciando outras mulheres em julgamentos nocivos, mantendo o preconceito vivo.
E com a voz internalizada da cultura, a mulher não se verá com estima, como uma pessoa plena, capaz, o que exigirá esforço para se engajar criticamente nos diálogos e combater as desigualdades de gênero geradoras deste mal estar, tanto no seu mundo interno como no contexto social.
O problema são as características pessoais de uma mulher ou a cultura?
Identificar, esclarecer e desconstruir estes estereótipos, estes preconceitos é ativismo social, nosso direito e obrigação.
Somos singulares e únicas. Livres e donas dos nossos corpos, contornos e tons.
Faça valer a sua autenticidade!
Telma Lenzi | 5 setembro 2020