Vamos começar a nossa conversa modificando a acentuação do titulo: é possível ser feliz no casamento!
Em um mundo de pressas, consumo e performances, o casamento também corre o risco de ser facilmente descartável.
O número de divórcios aumenta. Mas o número de pessoas que querem uma relação estável também.
Todos queremos um parceiro(a). Todos concordam que ser casal aumenta a qualidade de vida, de bem estar, diminui risco de doenças psicossomáticas, favorece o crescimento.
Mas esse é o paradoxo: favorece o “crescimento”. Mas crescer dói.
Crescer é tomar conta a criança mimada, magoada, braba ou birrenta que existe dentro de cada um. Sendo que muitas vezes, na confusão emocional da avaliação das dores de uma relação, muitos casais tomam descaminhos: briga, mágoa, abandono, rejeição, solidão a dois, traição, separação.
Crescer dá trabalho e leva tempo. Crescer exige disponibilidade emocional. Crescer é aprender a ser sozinho para poder ser casal. Crescer exige a atitude de Amar.
Afinal quando se diz: eu te amo? Afinal como se define o Amar, e o Amor?
O ato de Amar é construído no campo da emoção chamado Amor.
Para Maturana (biólogo Chileno), “o amor é a emoção que constitui o domínio de condutas em que se dá a operacionalidade da aceitação do outro como legítimo outro na convivência”. (1998).
Um antigo registro da definição de Amar datada de 50 d.C.(E. aos Coríntios), nos fala da atitude de amar: “Em essência, o amor é paciente, bom, não se gaba nem é arrogante. Não condena por causa de um erro cometido, não se regozija com a maldade, mas com a verdade.”
Então ser um Casal envolve aceitação mútua, dos fatos, das circunstancias, da própria vida como ela se apresenta. Envolve um ato de grandeza, e está longe de ser entendida como submissão ou passividade.
Um exemplo para este tipo de amor é o que sentimos por nós mesmos. Normalmente a gente se ama e se aceita nos diversos erros que cometemos a cada dia. Perdoamos-nos rapidamente. Não ficamos de mau e nem querendo nos abandonar ou questionar se vamos conseguir conviver com a gente, não é mesmo?
Então porque parece estranho, se praticamos este amor o tempo todo conosco?
A expectativa no casamento (e consequente frustração) de desejarmos que o outro seja do jeito que a gente quer, nos dificulta a ver a pessoa do jeito que ela é e precisa ser vista e amada. Isto é que chamaríamos submissão e passividade diante de uma criança interior que deseja as coisas de um jeito que não poderão ser. Esta atitude leva a sofrimento pessoal e sofrimento da relação.
Aceitar, apoiar e encorajar um ao outro para que aconteça este processo de lidar com a perda da ilusão (frustrações) é o que chamaríamos: um relacionamento, um casamento de amor.
Nossa necessidade emocional básica não é nos apaixonarmos, mas sermos verdadeiramente amados por alguém que nos escolheu amar, que vê em nos algo digno de ser amado.
Os ajustes de um relacionamento quando existe a escolha de amar e ser amado serão feitos com paz, menos medo e mais sabedoria.
E o que a gente ganha quando ama?
Para Dalai Lama (mestre tibetano), o Amor é uma emoção que nos devolve paz, força interior, autoconfiança na nossa condição humana, reduz o medo, a raiva o ressentimento e vem acompanhado de sabedoria e paz.
O resultado maior de amar é se permitir sentir a própria experiência do amor; que é pessoal única e interna. É o que se sente, é a paz pra quem se doa neste sentimento.
Talvez você leitor esteja se perguntando:
Como posso avaliar meu casamento? Como posso diferenciar se estou apaixonado ou amando para pensar em um relacionamento mais serio?
Faça-se quatro perguntas a você mesmo:
- É uma escolha minha conhecer e ter um relacionamento com este(a) homem / mulher?
- Estou me esforçando para que de certo?
- Estou interessado em incentivar o crescimento pessoal dele(a) e vice-versa, ele(a) de você?
- Esta relação esta causando crescimento, transformando-nos em pessoas melhores, em todos os sentidos: afetivo, profissional, espiritual?
Se a sua resposta for Sim para as perguntas, você está em um relacionamento de amor. Agradeça e usufrua.
Se as respostas forem Não ou mais dúvidas, pare para refletir.
A experiência da paixão não é um ato da vontade nem uma escolha consciente. Não visa o crescimento pessoal nem da relação, e dificilmente fornece o senso de realização.
Pergunte a você mesmo a terrível pergunta que Nietsche sugeria ser feita pelos casais diariamente: Preciso desta relação para sobreviver emocionalmente? Se for sim á resposta, esta relação esta fadada a um fim.
Escolha a vida! Escolha o caminho do bem estar, com compromisso com você mesmo.
Comece o dia perguntando-se o que posso fazer por mim mesmo para que o meu dia e (minha vida) seja pleno ?
Telma Lenzi | 2007