Hoje faz 54 anos que a Psicologia é profissão no Brasil.
Eu sou graduada em Psicologia há 38 anos. Meu CRP é 12/165. Sou da primeira turma da Psicologia da UFSC.
Vi e vivi muitas realidades sobre o que é ser Psicóloga e qual a prática legitimada pela nossa cultura.
Já foi só para os loucos e para os ricos. Hoje está mais democratizada e ao acesso de muitos.
Nossa ONG Assim (Associação Instituto Movimento) tem participação nessa desconstrução.
Já pertenceu ao lugar dos Especialistas, donos dos saberes e das teorias generalizantes que designavam os certos e errados para que as pessoas caminhassem seguindo as regras sociais para pertencerem a um certo conjunto de normas socialmente construídas.
E o que se fazia com os desencaixados, os desajustados, as minorias, os diferentes e surpreendentes?
Eram encaixados em rótulos diagnósticos para pertencerem a algum grupo: os muito sensíveis viraram deprimidos, os inquietos criativos, rotulados de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH – e, mais atualmente, os muito diferentes estão no grupo do Transtorno do Espectro Autista – TEA.
As pessoas tinham problemas ao não se encaixar na cultura e os Psicólogos estavam a serviço do sistema para manejar esse ajuste.
Questionei sempre e questiono o saber dos Especialistas no outro. Sabemos de nós, sabemos de teorias, mas do outro sabe o outro.
E neste caminho, a Teoria Sistêmica que eu seguia fez a virada pós moderna e, com ela, vieram as Práticas Colaborativas, que é onde me encontro hoje.
Hoje não acreditamos mais que as pessoas tem problemas em não se adaptar a cultura. Faço a pergunta contrária:
O que o contexto, a cultura daquela pessoas, contribui para o mal estar dela?
Somos todos diferentes e generalizações geram mal estar, exclusão, opressão e violência.
Somos singulares e o normal não cabe em todos. O diferente merece respeito.
Então o que faz a Psicologia atualmente? Será que exerço a Psicologia?
Sou, sempre serei graduada em Psicologia.
Mas não atuo como tal. Não faço teste, avaliações, perícias. Nem aplico métodos científicos para compreender a mente humana.
Eu sou sim, uma Terapeuta. Uma Terapeuta Dialógica Colaborativa. Com atuação não exclusiva da Psicologia.
- Eu facilito encontros e conversas transformadoras e acredito no potencial generativo dos diálogos;
- Eu acredito nas respostas, nos caminhos que tenham significados na singularidade de cada cliente, cada ser humano e não nas teorias e generalizações sobre as pessoas;
- Acredito na força das comunidades e nas verdades locais, para que o diferente e singular possa pertencer;
- Construo, em colaboração com meus clientes, os caminhos que eles validam pelo bem estar que sentem. Eles são os especialistas nas suas vidas.
- Não há um certo, uma verdade absoluta, um saber a priori sobre a situação, sobre o outro.
A Terapia Dialógica Colaborativa nos coloca lado a lado com nossos clientes no lugar da nossa vulnerabilidade e convida a crescermos juntos.
Que presente! Bem estar ao alcance de todos – e de mim mesma – é o meu propósito.
Feliz dia a todos os graduados em Psicologia que foram muito além do arsenal de técnicas e vivem com coragem e vulnerabilidade os verdadeiros encontros dialógicos humanos. Que acompanharam as mudanças sociais e se atentaram ao que nossos clientes buscam em nossas práticas terapêuticas.
Meu respeito a quem pensa diferente de mim.
Telma Lenzi | Terapeuta Dialógica Colaborativa | Agosto 2020