Os cabelos cinzas, azuis, rosas, brancos, loiros, castanhos, pretos, ruivos são todos lindos e você pode escolher sua cor. Qualquer cor.
Eu estou escolhendo a minha. Assumir meu cinza natural é um direito. É dizer não aos padrões impostos em uma sociedade machista. É uma quebra de um padrão estético.
Um padrão imposto pela sociedade de que toda mulher precisa parecer eternamente jovem e ter os cabelos de uma certa cor e forma considerada ‘natural’, mas totalmente artificial, para ser vista como bonita. Cansativo isso!
Cabelo liso não é o único bonito. Cabelo longo não é ser mais feminina. Cabelo colorido artificialmente não significa mais profissionalismo. Ter valor não é ser eternamente jovem.
Homens grisalhos são charmosos. E mulheres grisalhas é sinal de envelhecimento, desleixo? Então mulheres não tem direito aos seus fios naturais?
Poder se agrisalhar publicamente é um processo de autoconhecimento e aceitação. O cabelo vira uma ferramenta para você se descobrir e se aceitar cada vez mais. É um processo de dar voz a própria liberdade.
Os brancos e grisalhos, fazem parte de um movimento de empoderamento feminino importante. Sim, mulheres podem deixar seus cabelos viverem naturalmente e celebrar seus fios brancos.
Parece tão óbvio, mas essa libertação feminina está dando o que falar. Trás uma mensagens não facilmente aceita de incômoda quebra das verdades impostas, também de personalidade, luta, resistência, estilo.Uma declaração de que a feminilidade vai além da cor do cabelo sendo a negação ao poder da preferência majoritária masculina, entre outras coisas mais.
A caminhada em busca do empoderamento pessoal feminino é longa, difícil, cheia de comentários e olhares tortos a cada esquina:
– Te envelheceu!
– Não te favoreceu!
– Vamos ver quanto tempo tu aguentas!
Mas também cheia de sororidade:
– Tá linda!
– Que coragem, poderosa!
– Também vou deixar os meus fios livres!
Sim, livres. Essa é a palavra que mais define o processo: Sentir-se livre. Livre do salão de beleza. Livre de padrões impostos. Livre pra ser mulher do meu jeito.
Aos poucos a gente vai percebendo que um fio branco é só um fio branco, que cinza é só mais uma cor, que envelhecer é um processo que infelizmente alguns não viverão para ver e que velhice é um estado de espírito prisioneiro aos padrões culturais.
Agradeço as vantagens da maturidade dos meus 61 anos que celebro hoje.
Rir de si, se experimentar, ser mutante, imprevisível, coerente, incoerente, e sempre, sempre escolher por estar incondicionalmente ao meu lado e não ao lado de quem me olha torto.
Saber quem sou, minha potência e vulnerabilidade, e que com certeza não agradarei a todos com o meu jeito de estar no mundo, é o melhor presente deste novo ciclo que inicio.
Telma Lenzi | 14/07/2020