Uma construção social da loucura

(Com spoiler) Um filme que não fala de heróis e vilões. Fala de tristeza e solidão. É negado ao protagonista […]

(Com spoiler)

Um filme que não fala de heróis e vilões.
Fala de tristeza e solidão.

É negado ao protagonista pertencimento em todos os âmbitos da sua vida, sendo o reflexo da marginalização em uma sociedade em ruínas.
Um filme que fala do humano, da humanidade, condição negada da realidade de muitos, que muitas vezes está longe do nosso cotidiano, mas é a realidade de alguém. Faz pensar a nossa participação como produto e produtores de uma sociedade doente. Faz pensar em saúde mental, sociologia, filosofia, desigualdade social.

Uma crítica ao governo, à mídia, à falta de políticas públicas para os menos favorecidos.


Ah, muitos não vão gostar. Porque a realidade escancarada é tristeza, desprezo, pobreza, deficiência, loucura, violência, brutalidade, sujeira, lixo, e isso não é diversão. Mas pra mim, cinema não é só diversão, é arte.
E arte mobiliza os sentimentos, gera barulho interno.

E o Coringa causa bagunça na nossa emoção. É desconfortável, cruel, visceral.

Para mim, o filme não romantiza o vilão ou vitimiza um psicopata ou aceita a violência como resposta para um sistema fortemente opressor. Coringa é um filme político que denuncia uma sociedade doente.

Expor a realidade como tal deveria ser um convite para mais empatia no mundo.

A principal crítica do filme é para cada um de nós. Se você não viu por esta perspectiva, fica aqui o convite para essa reflexão. E, se por acaso, em algum momento do filme você vibrou com o Joker – por exemplo, quando ele desce metaforicamente as escadas que antes eram tão difíceis de subir – pergunte-se: para qual dos seus Personagens Internos ele se transformou em um herói? Uma boa pergunta para revisitar sua história pessoal.

Melhor filme do ano e Joaquim Phoenix disparado foi show.

Telma Lenzi | Outubro 2019

 

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