Meu discurso por ocasião da solenidade de entrega da Medalha Joana de Gusmão, concedida pela Câmara de Vereadores de Florianópolis em 2009:
Uma reflexão sobre bondade, Filantropia e Responsabilidade Social.
A Responsabilidade Social é uma escolha pessoal e emocional de fazermos algo pelo mundo em que vivemos.
Cabe ao governo e cabe a cada um de nós. São momentos na vida em que ficamos diante de uma escolha entre frustrar o mundo e não agirmos, ou fazermos algo que crie esperança.
Mas não é simples praticar a Responsabilidade Social.
Será que praticamos a filantropia com amor e bondade verdadeira? Sabemos a diferença entre o bem e o mal?
Na maioria das vezes não temos clareza quando praticamos o mal. Ele é normalmente feito em nome do bem.
Todo mundo quer ser bom. Ser reconhecido como alguém que pratica o bem.
Mas será que conhecemos o compromisso com verdadeiras mudanças estruturais do ponto de vista social, político e econômico?
Ações paliativas mascaram o que realmente precisa ser feito, perpetuando a situação que originou o desequilíbrio, não mobilizando mudanças.
Ações bem intencionadas, mas ineficazes, sem continuidade podem provocar mais mal que bem. Posturas que reproduzem situações de desigualdade ou preconceito, não modificam as causas geradoras da injustiça.
Mas nós não escolhemos a reclamação passiva feita em confortáveis poltronas da nossa zona de conforto ou cadeiras burocráticas, sobre a fragilidade do futuro das políticas públicas. Fomos fazer a nossa parte enquanto cidadãos. E hoje estamos diante dessa homenagem, deste reconhecimento.
Mas como podemos praticar o bem sem ingenuidade, colaborando com a mudança social, política e econômica?
Praticar o bem é:
- Não contribuir para cristalizar posições opostas como a de quem dá e a de quem recebe.
- Agir com atitudes que pressupõe respeitar o direito do outro de dizer não. Considerar e dar validade às soluções que o outro apresenta.
- Contribuir para que o outro saia do papel passivo de mero receptor do bem, ganhando dignidade e voz ativa – o exercício da cidadania.
- Praticar o bem é dizer não ao discurso de estímulo à caridade que congela quem recebe numa incômoda posição de permanente devedor.
- Romper o jogo de poder, onde quem dá tem o direito de ditar as regras do jogo, arbitrariamente.
- Praticar o bem é não se julgar com vaidade: sou bom, sou santo.
A bondade consciente:
- Não é usada para suprir nossas carências de afeto, ou as carências de afeto de outras pessoas.
- Só é possível depois que conhecemos a nós mesmo e aceitamos nosso lado mais sombrio, nossa própria agressividade e destrutividade.
- A bondade consciente é uma conquista lenta e interna: é espiritual.
- Ela só pode ser exercida plenamente quando não encobre desejos de manipulação.
Você pratica a filantropia, é voluntário por algum outro desejo que não seja doação? Se você quer fazer carreira profissional, carreira política ou carreira de santo, por favor, escolha o caminho de se profissionalizar e abra mão do jogo da manipulação.
O ser humano é o ser que anseia por amar e agir com justiça.
Portanto hoje, mais do que o reconhecimento de nossas ações, agradecemos sim, a oportunidade de nos sentirmos mais dignos de nossa complexa condição humana, nossa luta e nossos ideais.
Sim. Precisamos imaginar e nos responsabilizar por um mundo melhor!
Eu agradeço!
Telma Lenzi | 18 de agosto de 2010