Impossível se encaixar neste estereótipo da mãe do Dia das Mães. Quem é essa mãe que se encaixa no “padecer no paraíso”, no “doar sem ter pra dar”, no “abdicar de seus planos”, no “amar sem condicionar nada”?
Quem é essa mulher que não se queixa de cansaço, exaustão, depressão e ainda consegue sorrir na foto?
“Nasceu pra ser mãe. ”
E o que ela vai fazer do direito a ter a própria vida?
“Os filhos vem em primeiro lugar. ”
Em que ordem de cuidado ela fica?
O que é o dia das mães que não algo comercial, uma prerrogativa do nosso sistema capitalista patriarcal e machista? Colocam a mulher neste papel impossível de sobrecarga, vendem com isso e submetem as mulheres a caber na caixa.
Toda irrealidade vendida como possibilidade causa danos.
Toda manipulação tem uma intenção política.
E assim seguem as mulheres mães se nutrindo de culpa, se sentindo imperfeitas. Tão fácil manipular através do medo e da culpa.
Cenário pós dia das mães: escutei muitas falas de dor, restos de mal estar, sentimentos confusos, tristeza…
- Muitas mães suficientemente boas não se valorizando.
- Muitas mães que perderam filhos ou que ainda não conseguiram ter, se sentindo incompletas.
- Muitos filhos e filhas sem mãe não tendo onde ancorar a sua dor no meio da comemoração.
E os filhos de mães tóxicas, violentas e abandonadoras oriundas de cenários emocionais igualmente frágeis, o que fazem no dia das mães?
Presenteiam, agradecem, retomam contato, negam suas dores?
E as mães tóxicas que ainda não se deram conta do estrago relacional e esperam, cobram e celebram esses dias, salpicando gotas de culpa ao invés de reparação?
A propaganda induz a dores neste dia. Bem nós, já fragilizados pela pandemia.
A realidade é que não existe a mãe da propaganda. Existe somente a mãe possível que cada uma de nós pode ser.
Cabe a mim, a você, a cada um mudar essa realidade.
Dia das mães, das mulheres, é todo dia.
Telma Lenzi | Maio 2020