Conversa Íntima

Homem,

Vim até aqui de mansinho. Bem devagar, pelas bordas. Com todas as preliminares que o assunto pede para falar de homens, falar de mulheres, falar de Sexo. Falar de mulher para homem.  De mulher para o seu homem.

Sabendo dos riscos que o tema envolve, mas, mesmo assim, vou te levando pela mão.

Sei que não há nada de mais sensível, emocional e delicado do que seu pênis.

“Ele’’ se ressente facilmente com as cobranças, pressões do mundo, do desempenho e competências. “Ele” se ressente com as mulheres, mas as quer . Deseja elas assim como mulheres desejam homens.

Há muito para conversar, universos tão diversos, regências hormonais tão descompassadas.

O masculino anda em linha reta, o feminino em ondas: grávida de lua, ávido de mar. Quem é o estrangeiro? Quem é do seu lugar?

Então, quero te pedir desculpas, mesmo não havendo culpa, só descaminho – Reconstruir uma narrativa íntima de nós dois.

Ah! As muitas dores que te causei.

Desculpa pela dor de teres entendido – só mais tarde, se é que entendestes – que aquele lugar perfeito era provisório – só por nove meses.

Desculpa pela quebra da díade perfeita – excesso de amor e zelo, paixão – exclusividade temporária.

Desculpa pelo abandono aos doze anos, quando ficastes para trás, um menino, e eu me tornei mulher, cortando nossos pactos de infância e voltando o meu olhar para os rapazes mais velhos.

Desculpa pelo constrangimento causado quando me insinuei para ti, com toda a força de minha sensualidade aos 16 anos; e tu, na explosão testosterônica, me ofendeu oferecendo sexo. Ora, era só admiração que minha intenção buscava.

Desculpa pela convivência ao meu lado; em ondas, em dispersão, em ciclos estrogênicos, em picos emocionais, em  falas de queixas que não pedem nada – ou melhor, pedem colo.

Desculpa pela decepção e complexidade de ajuste, ao saber que o meu orgasmo não vem com o carinho interno do pênis na vagina – existe o lugar do orgasmo feminino (clitóris) que exige atenção.

E sobre esse orgasmo tão cor–de–rosa? Por onde seguir?

Pela menina:
Ela pede o caminho do sexo lúdico, um jogo criativo sem regras preestabelecidas. Quer ganhar prazer. Pede o carinho do toque – suave pelas bordas do mingau quente.

Pela mulher:
Ela sabe qual o seu caminho – único e pessoal – solta a informação por escolha, escolhe o momento e conduz com gentileza o seu prazer. Sabe que cabe a cada um a busca do seu prazer.

Pela cigana:
Ela vem de repente, sem avisar. Confunde tudo. Roda a saia vermelha e incendeia a cena. Pede mais – mais toque, mais força, mais pegada, mais prazer.

E, ele (o orgasmo feminino) chega cor-de-rosa. Às vezes, único, forte e denso. Às vezes, múltiplo e sem fim.

Às vezes, não vem.

Às vezes, vem e não quer ir embora – perpetuando-se num prolongado abraço tântrico.

Escolher por onde seguir é a arte de conhecer uma mulher e as várias mulheres, Personagens Internos que a habita. A arte de entender o orgasmo feminino. Imprevisível, indescritível, incompreensível – De lua.

Desculpa, por fim, meu parceiro, se teus hormônios te pedem sexo aos 70 anos; e, o meu corpo pede abraço – transcendendo o ato físico pede o sexo espiritual.
Eu te desculpo por não me conheceres.

Mulher

 

Telma Lenzi | Outubro 2007

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