Uma construção social da loucura

(Com spoiler)

Um filme que não fala de heróis e vilões.
Fala de tristeza e solidão.

É negado ao protagonista pertencimento em todos os âmbitos da sua vida, sendo o reflexo da marginalização em uma sociedade em ruínas.
Um filme que fala do humano, da humanidade, condição negada da realidade de muitos, que muitas vezes está longe do nosso cotidiano, mas é a realidade de alguém. Faz pensar a nossa participação como produto e produtores de uma sociedade doente. Faz pensar em saúde mental, sociologia, filosofia, desigualdade social.

Uma crítica ao governo, à mídia, à falta de políticas públicas para os menos favorecidos.


Ah, muitos não vão gostar. Porque a realidade escancarada é tristeza, desprezo, pobreza, deficiência, loucura, violência, brutalidade, sujeira, lixo, e isso não é diversão. Mas pra mim, cinema não é só diversão, é arte.
E arte mobiliza os sentimentos, gera barulho interno.

E o Coringa causa bagunça na nossa emoção. É desconfortável, cruel, visceral.

Para mim, o filme não romantiza o vilão ou vitimiza um psicopata ou aceita a violência como resposta para um sistema fortemente opressor. Coringa é um filme político que denuncia uma sociedade doente.

Expor a realidade como tal deveria ser um convite para mais empatia no mundo.

A principal crítica do filme é para cada um de nós. Se você não viu por esta perspectiva, fica aqui o convite para essa reflexão. E, se por acaso, em algum momento do filme você vibrou com o Joker – por exemplo, quando ele desce metaforicamente as escadas que antes eram tão difíceis de subir – pergunte-se: para qual dos seus Personagens Internos ele se transformou em um herói? Uma boa pergunta para revisitar sua história pessoal.

Melhor filme do ano e Joaquim Phoenix disparado foi show.

Telma Lenzi | Outubro 2019

 

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A terapia vai p’ra praça

Percorro o cenário das terapias na nossa cidade há quase 40 anos.

Desde jovem paciente, depois cliente de várias abordagens que contribuíram no meu contínuo processo de tornar-me.

Me aproximei e me apaixonei pelo Psicodrama, depois pela Linha Analítica das terapias com crianças até sentir seus limites em mim e no contexto onde eu as exercia.

Meu encontro com a Teoria Sistêmica (1987) me expandiu e apresentava um novo movimento.

Atender casais, famílias ou simplesmente uma pessoa olhando para o contexto onde ela se constituía  mudou meu olhar do interno das pessoas para suas relações, do individualismo a pensar que as pessoas viviam em relacionamentos. Causou críticas e desconfiança na comunidade. E como toda mudança social, foi absorvida.

Na década de 90,  o projeto cultural tradicional moderno foi drasticamente alterado.

As mídias sociais, internet e o uso dos celulares, foram absorvidos na rotina cotidiana das vidas e dos relacionamentos. Os efeitos da globalização e da informatização assustaram e grandes reflexões sobre estas transformações tomaram seu curso e propuseram novos caminhos.

As práticas de terapia que mantinham o discurso dos padrões morais a serviço do controle social, reproduzindo terapeutas especialistas na cura do paciente, são questionadas e acontece a virada Pós-moderna (final do século XX). Uma proposta para terapias como prática social transformadora, que deve ser compreendida a partir dos contextos locais.

Mudam as terapias, mudam os terapeutas.

O convite da perspectiva pós-moderna, fala da humildade na construção do conhecimento com o cliente em trocas colaborativas dos saberes. O cliente é o especialista em seu viver.

O terapeuta percebe o contexto sócio histórico que mobiliza as pessoas e os motivos que as fazem buscar a terapia. E sente e vive os mesmos efeitos deste contexto que também é seu.

Eu logo aceitei este convite para este novo movimento: a virada pós-moderna. Me sentia à vontade no caminho da auto reflexividade e das relações igualitárias.

Tornar-se público como pessoa, não mais como terapeuta especialista, mas com direito a meus pré conceitos, sentimentos, valores, contradições e opções ideológicas me deixou mais livre. Percebi a ampliação de minha prática clínica passando pela ampliação da minha subjetividade.

Não somos mais nós que temos que nos adaptar às teorias. São as teorias que precisam se adaptar às transformações sócio culturais e respeitar quem somos em nossas singularidades.Não são mais, as diferenças entre as pessoas, vistas como um problema. Agora são vistas como recursos que criam possibilidades.

A partir do paradigma da pós-modernidade, do construcionismo social, várias abordagens se constituem abrindo mão do poder especializado, de mostrar resultados positivos ou perseguir a cura de sintomas. Caminhei por elas, com aproximações, gratidões e escolhas possíveis.

Neste terceiro movimento me encontro hoje: nas práticas colaborativas-dialógicas. Aqui me sinto à vontade com minhas singularidades e minha subjetividade.

Seja qual for o seu contexto, trabalho ou situação de vida, sua subjetividade influenciará a escolha de um fazer ou um estar.

O profissional pós-moderno deve se perguntar como sua prática e a teoria que a fundamenta podem influenciar positivamente a vida das pessoas que o procuram, diante da inegável responsabilidade de ser co-construtor de subjetividades e co-autor de histórias na clínica.

Minha subjetividade dialoga com algumas sensibilidades desta prática.

  1. Não se faz terapia. Se está com o outro neste espaço terapêutico.
  2. A terapia é um acontecimento linguístico e o terapeuta é responsável por criar um espaço dialógico que facilite a exploração de novos sentidos.
  3. Não há distinção do que somos como pessoa e como profissional.
  4. Foca no diálogo e percebe a terapia como conversação em que o terapeuta (em atitude de não saber) e cliente (como especialista) co-produzem novos significados, narrativas e realidades.
  5. No diálogo, novos significados estão constantemente sujeitos a emergir, devido à natureza transformadora da linguagem.
  6. Não busca alcançar um fim específico, mas estar em diálogos generativos.
  7. O expert em sua vida é o cliente. Não conhecemos uma pessoa pelo que ela apresenta.
  8. Cada encontro terapêutico é único. Não repetimos porque não somos os mesmos.
  9. Não podemos instruir, colocar uma ideia na mente da outra pessoa. Aprender é interacional.
  10. O self deixa de ser único e essencialista e passa a ser dialógico com múltiplas vozes, os Personagens Internos.
  11. Diálogos se sustentam e continuam após as conversações terapêuticas. Sejam internamente com os Personagens Internos, seja externamente com outras pessoas.
  12. Diagnósticos, rótulos, definições, explicações e sugestões reduzem a complexidade da pessoa.
  13. Cada um significa de um jeito. Perguntar os significados amplia o diálogo.
  14. As práticas colaborativas-dialógicas não se restringem aos Psicólogos. São convites para ações com escuta genuinamente respeitosa e diálogos generativos.
  15. Encontros dialógicos com presença radical, não precisam de um enquadre. Podem acontecer no espaço terapêutico e em qualquer outro lugar ou relacionamento.

Fica o convite de Harlene Anderson, criadora da abordagem, para ampliarmos estas práticas para além do espaço físico dos nossos consultórios, da terapia e de nossas comunidade imediatas.

O mundo seria um lugar mais respeitoso se estivéssemos em colaboração e diálogo nos diversos contextos de nossa vida cotidiana. No intervalo do café, na intimidade dos relacionamentos afetivos, nas reuniões de trabalho ou comunidades, em sala de aula, nos gestos de solidariedade e sororidade, em conversações transformadoras nos bancos da praça.

Sim. A Terapia está acontecendo na praça!

Vem pra praça!

Telma Lenzi

Setembro 2018

Movimento agora é curso de Especialização Clínica

Quando virou o milênio (ano 2000) também virou minha trajetória profissional.

Queria mais, como sempre, mais.

E fui atrás do meu sonho. Ou melhor, dos meus sonhos porque eles eram dois – opostos e complementares.

Queria me dedicar a ampliar a prática clínica da Psicologia para a clientela de baixa renda. Queria uma Ong.

Queria também maior consistência e reconhecimento teórico do Curso de Formação, transformando-o em Especialização.

Escolher por um foi difícil. Causou dor, mágoas, rompimentos, crescimento e amadurecimento: fui atrás da ASSIM.

No começo era só eu. E por não saber que era impossível, acreditei e segui.

No caminho logo se juntou a Ângela, que trouxe a Andréia, que chamou a Thais, depois a Cláudia e a Ivânia.

Neste processo foram vindo novos apoios: vieram muitos alunos, os amigos, os parceiros, a família.

Vieram os meus filhos que se tornam e tornaram Psicólogos: Pedro, Bruno e minha nora Fernanda.

Vieram os clientes da ASSIM e da nova Clínica.

Levou sete anos para ser um sonho alcançado, comemorado, homenageado com medalha e tudo.

Mas… Queria mais e agora não estava mais sozinha. Somos uma equipe grande que sonha grande junto. Que inventa moda junto. Inquietos e buscadores, retomamos o passado em busca do que lá ficou: formação transformada em Especialização.

Muito trabalho, muito empenho, muito desespero e muitas gargalhadas. Quase enlouquecemos com tanta burocracia, regras, fiscalizações e entrevistas. Controle total dos T.O. (Transtorno Opositor) envolvidos.

Controle também da nossa impaciência na espera de um sinal, uma resposta.

E ela enfim chegou. Caiu bem em minhas mãos no dia de hoje: 12/12/12.

SOMOS UM CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO FINALMENTE!

Parabéns Equipe Movimento ASSIM. Parabéns aos nossos 27 alunos.
Parabéns aos nossos mais de 280 ex-alunos em 25 anos de historia.
Parabéns aos nossos 54 Psicólogos voluntários da ASSIM.
Parabéns aos nosso 121 Padrinhos e Madrinhas da ASSIM.
Parabéns aos nossos mais de 2000 clientes da ASSIM, Clínica, cursos e palestras (em 2012).
A todos eu agradeço!
Telma Lenzi | 12 dezembro 2012

Ps: E agora equipe… O que vamos inventar de novo?

 

Viagem Espiritual à Machu Picchu

Minha escolha preferencial de viagens, são aquelas  com sentido, com disponibilidade para experienciar algo novo, transformador.

Neste texto, compartilho minhas reflexões e aprendizagens de uma viagem à Machu Picchu. 

A antiga utilidade dessa cidade continua sendo um mistério. 

Uns falam do Templo do Sol e da sabedoria dos homens Incas. Outros falam de uma cidade das mulheres, onde Pachamama, a mãe terra abençoa o Universo.

Para mim, guardo a lembrança da forte vivência de toda a sua magia, obstáculos e esplendor.

Indo buscar a energia do SOL, da força do masculino em mim, encontrei -me com ela, a força que vem do cuidar, do feminino, da terra de Pachamama. 

Compartilho aqui minhas valiosas lições que aprendi neste lugar.

 

Primeira Lição: A dor da Criança Interior 

Percepção que a maior dor da minha criança interior são as sensações e sentimentos de desproteção. Quando ela se sente só, perdida e sem saída. 

Quem vai cuidar de mim?  A resposta:Eu.

Segunda Lição: O cuidado com a Criança Interior

Vivências passadas de desproteção invadem o presente, me atrapalham e limitam o futuro.

Como cuidar da minha criança?

 Ser nosso próprio pai e nossa própria mãe, sempre. Vou te levar comigo, na gentileza do meu abraço.

Terceira Lição: Re-energização

Fui buscar a energia do deus sol, e quem veio a mim foi ” pachamama” (a mãe terra). 

Em um lugar que escolhi como meu recanto sagrado, encontrei enterrado na terra um anel. Um presente e uma força para desempenhar a minha tarefa de cuidadora. Que tipo de mãe escolho ser?

Como me re-energizar para cuidar dos outros?

Cuidar de mim para cuidar de muitos. A minha força está no feminino. Ser mãe de muitos. Personagem All Mother.

Quarta lição: Paz interior

Preciso me retirar do mundo para me sentir em paz. No dia a dia meus diálogos internos são intensos e tensos.

Como alcançar mais paz interior?

Assumir quem eu sou sem buscar concordância ou discordância interna e externa. Sou as minhas crenças, minhas buscas, meu caminho, meus vários lados antagônicos. E está tudo certo. 

Quinta lição: O anjo das polaridades

Abrindo o livro dos Anjos perguntei: Como seguir? 

Pelas Polaridades. 

Ser forte e ser fraca… Poder cansar, desanimar, descansar e seguir.  Eu e meus vários personagens internos tão antagônicos.

Sexta lição: A escolha

Vulnerabilidade, limite, não é fraqueza.

Ir ou não ir. Desistir  não. Somente descansar para seguir depois.

O autocuidado é respeito a si mesmo. 

Sétima lição: O medo é um amigo

Tem momentos que precisamos ir devagar, para ir mais longe. Se segurando nos apoios possíveis por auto cuidado.

A pergunta: O que eu faço com o meu medo?

Resposta: Acordos gentis.

Oitava lição: o caminho se faz ao caminhar

Se no está bom, vamos criar algo para melhorar.

Seguindo pelo caminho dos incas (uma subida íngreme), fiz acordos, pausas e respeitei meus limites. E o caminho suavizou a minha frente.

Nona lição: Pertencimento

Procurando um lugar no mundo, na paisagem, achei um lugar bem lindo e bem dentro de mim.

Décima lição: Alegria

Olhar as cores do mundo. Eu me misturo nessas cores peruanas.

Décima primeira lição: Redimensionamento

 Olhar o mundo de longe. Redimensionar a própria vida e a morte.

Décima segunda lição: Paciência 

A aprendizagem da espera. Tudo tem seu tempo. Respeitar o tempo de elaboração dos processos vividos. 

Lição Final:  Vivemos em um eterno tornar-se.

Nunca estaremos prontos. 

Estar pronto sim,  para as próximas viagens, aprendizagens e novas versões de mim.

 

 

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Reflexões sobre as Mulheres do Século XXI

Fazer 50 anos é uma responsabilidade infinita. Todos olham você esperando equilíbrio, controle das paixões, sabedoria, em papéis idealizados da mulher/mãe/profissional/avó/esposa/santidade.

Eu não me sentia assim. Nenhum papel me cabia, me pertencia. Me joguei do Olimpo eu mesma, rompi com os pactos familiares e sociais determinados, olhei para as minhas iguais – mulheres entre 40 e 60 anos e não encontrava referenciais que acalmassem a fúria e voracidade de viver – que rasgavam minha pele.

Nestes momentos de imenso debate interno decidi dar um tempo pra ouvir outra mulher, desta vez uma psicóloga que ministrou para casais há uns dez anos atrás, um curso de sexualidade e afetividade. Ela falaria sobre os novos paradigmas femininos na BPW Florianópolis.

Telma Pereira Lenzi (Instituto Movimento http://www.sistemica.com.br/) é uma mulher admirável por sua competência profissional, sua extrema sinceridade e facilidade de transitar por temas angustiantes para a maioria de nós.

Sentei-me na quinta fila do auditório, atrás de tantas outras mulheres empreendedoras, empresárias, comerciantes, menopausadas, solitárias. Tudo que ouvi fazia sentido, encaixava em falas recentemente proferidas sobre a temática feminina, mas com novo olhar e roupagem. Primeiro ela se colocou como mulher, trouxe-nos sua história de vida, seus sonhos, suas maternidades, os casamentos e divórcios e reorganização familiar, seu diagnóstico de câncer e sofrimento da mastectomia, suas fortalezas e debilidades. Era a Telma real que nos falava.

Disse-nos que no Século XXI homens e mulheres devem fazer as pazes, criarem alianças, depois de muitos tempos de embates e lutas. Percebemos que a grande maioria das mulheres ainda continuam lutando e lutam tanto que esquecem de perceber que já ganhamos a guerra. Hoje podemos escolher novos modelos e arranjos, propiciados pelo divórcio, novas formatações familiares, realização profissional, concretizarmos sonhos. Um dos aspectos enfatizados por Telma foi que nos movemos pela intensidade e esta intensidade nos vicia. Deste modo, ao não nos darmos limites, queremos o tempo todo estar em todos os possíveis papéis sem termos possibilidades de dar conta de tudo.

NOVOS PAPÉIS

No século XVIIII fomos submetidas ao poder existente e ocupávamos nossa unica função social: mulheres eram mães.

No século XX, por conta das mudanças sociais e surgimento da burguesia, a família passa a cuidar da propriedade e há um intenso processo de domesticação da mulher, treinada para o cuidado (da casa, dos filhos, do marido, das amigas).

A antítese à domesticação foi o movimento feminista. Já no Século XXI vivemos uma diversidade de modelos, que nos trás uma imensa sobrecarga.

Verdade que podemos tudo, mas as grandes perguntas são: eu preciso de tudo? eu dou conta de tudo? Respondidas as perguntas, a nova mulher deve aprender a fazer escolhas, entendendo suas contradições pessoais, sociais e poder responder por elas (eu escolho, eu dou conta?) Podemos tudo, mas dentro da gente fica a culpa por deixarmos alguns dos papéis não muito bem atendidos.

Há muitas opções e devo fazer minhas escolhas a partir das minhas referências, ouvindo minhas contradições e sabendo que quando optamos por uma coisa, perdemos outras. ESCOLHA ENVOLVE PERDAS. Temos que cuidar com a sobrecarga, com a culpa, com o perfeccionismo, pois não precisamos dar conta de tudo. Sobretudo, cuidar com as crenças do amor romântico do Século XVI que ronda nosso imaginário, pois muitas de nós caímos na armadilha do homem num conversível branco, lindo, inteligente, que nos tirará da inércia e nos fará felizes para sempre.

VELHAS CULPAS

As culpas e os conflitos com a dupla moral – interna e externa, são outros óbices da nova mulher. Sim, temos mais possibilidades de escolhas e isso nos traz muito mais angustias. SOMOS LIVRES NAS ESCOLHAS, PRESAS NAS CONSEQUÊNCIAS. E a mulher de hoje pode ocupar dois lugares: de vítima (senta e chora e lastima) mas ninguém cresce com lágrimas, ou de protagonista que assume as consequências das escolhas com casamento, sexualidade, maternidade, completude.

CASAMENTO

Os homens perderam a mulher que oferecia proteção, colo, cuidado – a mulher/mãe e não foram preparados para as grandes mudanças de valores que estamos vivendo. O que atrapalha muito as relações é a diferença de comunicação entre homem e mulher. Mulheres são mais amplas/subjetivas/interpretativas e periféricas enquanto o homem é objetivo/superficial e pratico. Entretanto são estas diferenças e a convivência com elas que nos fazem crescer. Nossos desafios são nos tornar menos interpretativas, parar de nos queixar, aprender a negociar e deixar que atuar com a emoção, que faz com que sempre percamos a razão. Telma salienta que deveremos ter mais objetividade nas relações e abrirmos mão da busca do amor romântico do Século XVI.

SEXUALIDADE

Ela começa por salientar a importância que há em desmistificar o tema. Sexualidade é construção social e foi reinventada diversas vezes ao longo da história da humanidade. As verdades mudam, como havia o kama sutra no Oriente, o pecado católico, a guerra dos sexos e o poder do não por parte das mulheres são exemplos disso.

Ela falou ainda que o sexo não existe para desenvolver carinho mas sim para buscar prazer, descarga orgástica, acionar mecanismos físicos-químicos de prazer e saúde (os órgãos sexuais sofrem alterações profundas, sendo que a excitação provoca reações vasculares, neurológicas, musculares e hormonais. a relação sexual favorece a produção de endorfina, serotonina e dopamina, substâncias antidepressivas. Melhora a circulação sangüínea, favorece a oxigenação de todos os órgãos, queima calorias, diminui o estresse e é um excelente exercício para o coração. Durante o ato sexual, ocorre uma descarga de adrenalina que aumenta a freqüência cardíaca. O sangue circula por todo o corpo, estimulando a irrigação. No momento do orgasmo, a liberação de endorfina relaxa as paredes dos vasos, o que facilita a fluidez do sangue e diminui o risco de enfartes e derrames provocados pelo entupimento das veias.

Nesta fase, as artérias dilatam-se absorvendo maior quantidade de oxigênio.O esforço físico exigido pela atividade sexual tonifica os músculos e libera tensões. A ginástica que se faz desde as preliminares até ao orgasmo ajuda a fortalecer os glúteos, as pernas e o abdômen. Durante um ato sexual intenso, com duração de 15 minutos, podem ser queimadas até 300 calorias.

O orgasmo funciona também como trégua para a ansiedade dos períodos de pressão pessoal e profissional. A região pélvica é uma área que precisa de exercício, pois seu enfraquecimento aumenta o processo de queda da bexiga (prolapso). O orgasmo provoca entre cinco a doze contrações de musculatura perineal). Costuma-se vincular sexo com amor, que são coisas diferentes: um é necessidade física e o outro, construção social. Telma disse ainda para termos atenção que a cultura e a sexualidade são mecanismos de controle. Mostrou que as mulheres tem um lugar corporal específico para o orgasmo – clitóris, mas que a grande maioria das mulheres não conhece, não utiliza.

MATERNIDADE

A maioria das mulheres cai no mito da super-mãe que tudo pode. A onipotência pode trazer o outro lado da moeda, que é impotência e a superproteção pode levar pra negligência.

Amar e cuidar são coisas diferentes de controlar/castigar.

O amor na maternidade implica justamente em frustar os filhos e prepará-los para a vida. As mães que muito cuidam de seus filhos, muito controlam. Também perceber que há espaço para que as mulheres sejam, sem que necessariamente assumam papéis de maternidade. Hoje uma mulher pode estar muito bem como profissional, muito bem com um companheiro, muito bem sem filhos.

INTEIREZA

Dentro destas novas realidades e novos cenários a psicóloga Telma trouxe como exemplo final que nós, mulheres do Século XXI, temos um guarda roupas repleto de modelos de roupas (vestidos, calças, saias, lingeries), de todas as cores, enquanto que nossas avós abriam seus guarda roupas e encontravam apenas dois modelos: o branco do vestido da noiva e o preto, representativo do luto da viúva.

A mulher do Século XXI quer ser inteira, quer ser respeitada, quer poder viver em família, com ou sem homens, com ou sem filhos, hetero ou homoafetivamente, sem que ninguém lhe culpe por suas escolhas.

Temos mais angústias, mais opções, mais responsabilidades, mas podemos muito mais.

Por isso, reafirmo para as novas MOIRAS, as mulheres que nos leem as seguintes reflexões:

    • não viva no lugar da vítima. seja protagonista da sua história
    • faça alianças com os homens. eles não são inimigos
    • não se sobrecarregue. saiba abrir mão de alguns papéis
    • assuma somente o que você dará conta
    • escolha envolve perda
    • quanto maior variedade de escolhas, maior é a angústia
    • relação entre homem e mulher deve ser de afeto e troca
    • seja menos interpretativa e mais objetiva
    • tenha orgasmos com o parceiro, tenha sexo consigo mesma
    • você pode ser mãe ou não.
    • educar é, muitas vezes, frustrar o filho

(anotações feitas por mim no auditório da ACIF em evento da BPW em 04 de abril de 2012)

Fonte: http://advogadaemflorianopolis.blogspot.com.br/2012/04/reflexoes-sobre-as-mulheres-do-seculo.html

Autora: Rosane Magaly Martins | 9 de abril de 2013 às 21:47

SER SUA PRÓPRIA MÃE

“Em todo adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre
vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita atenção
e educação incessantes.”
C. G. Jung

Na procura de algo que fizesse sentido, encontrei uma criança sentada em uma escada da vida. Rejeitada, abandonada no tempo, sem amor. Impedida de ser livre. Me pareceu familiar.
Custo a reconhecer. Mas aos poucos vou me lembrando de quem é.

Como a abandonei? Quando? Como me esqueci dela por tanto tempo? Quero dizer algo, fazer algo, mas permaneço imóvel. Não sei por onde. Não sei se ainda vale a pena. Não sei como isto aconteceu, só sei que ela foi abandonada por mim.

Agora sei o porquê de tanta insatisfação, de tanta busca. Vivi estes anos todos sem a minha criança interior. Agora que a encontrei, o que dizer?

Ela que costumava ser tão feliz, vejo-a assim, quase sem vida. Mas, sobreviveu! Viveu sem amor, sem meu cuidado todo esse tempo. Viveu sem mãe. E eu mal consegui sobreviver.

Queria ser uma adulta com maturidade e busquei a vida todo algo que completasse minhas inquietações, tirasse a minha angústia. Nada encontrei que preenchesse esse vazio em mim.
Encontrei apenas distrações, que confundiram a busca do meu bem estar no mundo.

Agora tudo faz sentido, tudo se encaixa. Uma adulta sem a criança interna, uma adulta pela metade.

Neste instante começo a sentir uma certa harmonia interna. Quantas vezes me perguntei o que me faria feliz, o que me faltava. Aproximo-me dela meio constrangida, envergonhada, e digo: Está tudo bem. Sei que você esta amedrontada e magoada. Mas agora sou adulta e tomarei conta de você.

Eu não sabia como fazer para te manter comigo, e cedi demais aos meus nãos, a minha repressão. Eu não conseguia aceitar e cuidar de todos os meus personagens internos. Principalmente aqueles que cometiam erros, ou faziam bobagens, que me mostravam que não era perfeita. E eu queria muito ser.

Agora entendi. Você não precisa mais sentir medo. Vou protegê-la, serei uma mãe amorosa e sempre presente ao seu lado.

Lamento não ter conversado com você todos esses anos e por sempre tê-la desprezado. Desejo compensar o tempo em que estivemos afastados. Resgatar contigo o que me fazia feliz na infância.

Lembrar que os momentos mais felizes eram aqueles em que eu era aceita e amada pelo que era. Os momentos de autenticidade em que sabia ser intima da minha criança. Como adulta, não conseguia mais ser íntima de ninguém porque não sabia ser íntima de mim.

Agora serei o melhor que puder, minha melhor mãe de mim.

Telma Lenzi | Maio 2012

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Eles são todos iguais?

Traição é um assunto espi­nhoso. Confiar em quem? Nas pesquisas que perguntam “você já traiu?” ou “você já foi traída?”. Me­lhor acreditar na sinceridade do golfista Tiger Woods, 33 anos, que pediu desculpas públicas depois de assumir três casos extraconjugais.

Aos fatos: na noite do dia 27 novembro, ele saiu de sua mansão em um condomínio fechado na Flórida, por volta das 2h20min, descalço, de calção e camiseta. Pegou o carro, bateu em uma ár­vore e, em seguida, em um hidrante. Quando a polícia chegou, o encontrou deso­rientado, deitado na calçada e com o rosto machucado. Diz o site de fofocas TMZ que tudo começou quando a mulher de Woods, a ex-mo­delo sueca Elin Nordegren, 29 anos, o flagrou trocando mensagens pelo celular com outra mulher. Durante o acesso de fúria, Elin teria jogado o aparelho no rosto do golfista e atingido o carro com um taco de golfe.

O preâmbulo Tigerwoodia­no serve para ilustrar um pro­blema masculino: a insatisfa­ção. Para o negro que vingou em um esporte para brancos, o fato de ser casado com uma loira fenomenal, ter US$ 1 bilhão na conta bancária e dois filhos pequenos não o fez um homem diferente dos outros. Está lá o carimbo de insatisfeito (marcado por um celular bem no meio da testa).

A divulgação da traição também soa como um tipo de vingança feminina. É possível ouvir delas os “ah, são todos iguais!” ou “se ele, que tem tudo, também trai, imagina o resto…”.

Mas será que a carne é assim tão fraca? Por que a outra é sempre melhor?

Tel­ma Pereira Lenzi, psicóloga especialista em sexualidade humana, diz que “os homens se sentem mais “autorizados” a trair e mais facilmente perdoados pela comunidade e até por suas parceiras. Bastaria um pedido de des­culpa formal e emocional para ter de volta a aceitação pública e restabelecida a paz familiar.”

Sobre a tal insatisfação, a psicóloga não dá esperanças aos machistas.

“São sentimentos hu­manos. Todos nós temos. Um adulto com maturidade emocional precisa saber con­trolar seus impulsos e en­tender qual a demanda mais íntima que sua vida não está satisfazendo”,  explica.

Enquanto Tiger Woods tenta salvar seu casamento — e o bolso, já que, em caso de divórcio, Elin deve rece­ber US$ 300 milhões, fora a pensão — uma de suas ex-amantes cobra US$ 150 mil por entrevista e negocia uma capa na Playboy americana.

Mas o prejuízo financeiro e a mancha na reputação são fichinha perto do ce­nário que se apresenta. Os dois continuam morando na mansão de 620 metros quadrados e oito suítes, e ela teria contratado uma terapeuta de casais para salvar o casamento.

Depois de ter sido fla­grado e surrado, ele agora não poderá fugir da temida DR (discutir a relação), pois está trancado em casa. É a treva, Tiger.

ELE É O CARA

:: De junho de 2008 a junho de 2009, Tiger Woods ganhou US$ 110 milhões. É o atleta mais bem pago do mundo

:: Tem 93 títulos em torneios, nove deles conquistados este ano

:: Até hoje já fez 18 hole in one, quando a bolinha acerta o buraco na primeira tacada

ELE NÃO É O CARA

:: A atriz pornô Holly Sampson, que também revelou ter tido um caso com ele, fará um filme pornográfico sobre os encontros dos dois

:: O jogo Caçando Tiger virou febre na internet. Nele, o golfista dirige um carro e é perseguido por sua esposa. Woods tem que desviar de obstáculos para evitar que ela o alcance (www.break.com)

:: Já perdeu três contratos publicitários e informou que deve deixar o mundo do golfe por tempo indeterminado

Fonte: Donna DC/ClicRBS, por Fabiano Moraes.